Introdução
A Jataí — Tetragonisca angustula — é uma abelha sem ferrão de pequena estatura e grande presença nas paisagens brasileiras. Amplamente apreciada por meliponicultores e comunidades tradicionais, a espécie combina fácil manejo com papel relevante como polinizadora em ambientes naturais e urbanos.
Identificação e descrição
A Jataí é muito pequena — cerca de 4–5 mm — com coloração que varia entre tons amarelados e partes mais escuras no tórax e abdome. Como integrante da tribo Meliponini, é desprovida de ferrão funcional; a defesa da colônia é feita por soldados e por uso de resinas.
Vários nomes populares acompanham a espécie: jataí, jataí-amarela, abelha-mirim, sete-portas e outros, com etimologia tupi para termos como “jataí” em registros linguísticos históricos.
Distribuição geográfica e habitat
Tetragonisca angustula tem distribuição ampla no Neotrópico: do México ao norte da Argentina, com forte presença em todo o Brasil. Ocorre tanto em fragmentos florestais quanto em ambientes antropizados, utilizando cavidades pré-existentes em madeira, muros, postes e caixas racionais.
Organização social da colônia
As colônias são perenes e geralmente atingem milhares de indivíduos, organizados em castas: rainha reprodutora, operárias com divisão de tarefas (limpeza, construção, forrageio) e soldados especializados na defesa.
A produção de indivíduos reprodutores (machos e potencialmente novas rainhas) segue ciclos sazonais, com maior enxameação e produção sexual geralmente no período mais favorável à alimentação — no Hemisfério Sul, o verão e fim de verão concentram essas atividades.
Ninho, arquitetura e entrada característica
O ninho é montado em cavidades fechadas, com discos de cria horizontais no centro e potes de alimento ao redor. A entrada típica é um tubo de cerume (material ceroso/resinoso) que se projeta para fora: um “dedo” que protege o acesso e pode ser parcialmente fechado em situações de risco.
Forrageio, dieta e comportamento de procura
Jataís coletam néctar, pólen e resinas. O alcance típico de voo para forrageio é relativamente curto (centenas de metros) — uma característica ligada ao pequeno porte corporal — e a busca por recursos depende fortemente da experiência individual das forrageiras, com recrutamento químico indireto mais fraco do que em algumas vespas ou abelhas maiores.
Estudos documentam visitas a dezenas de espécies de plantas; em certos locais, a Jataí chega a ser a principal visitante de muitas flores locais.
Mel da Jataí: produção e qualidades
O mel de Jataí é apreciado por seu sabor delicado, notas florais e acidez característica. A produção por colônia é limitada (pequenas quantidades por ano), o que eleva o valor comercial — em algumas regiões, o preço pode exceder significantemente o do mel de abelhas com ferrão.
Propriedades relatadas: maior umidade relativa que méis de Apis, pH mais ácido e presença de compostos bioativos com ação antimicrobiana e antioxidante. Uso tradicional inclui aplicações para garganta, olho e pequenas lesões — sempre observando práticas higiênicas.
Importância ecológica e relação com humanos
Como polinizadora, a Jataí desempenha papel vital na reprodução de plantas nativas e cultivadas de flores acessíveis a seu porte. Em áreas urbanas, contribui para a frutificação de pomares caseiros e jardins, além de ser indicada para projetos educativos e de restauração ecológica.
Muitos meliponicultores preferem a Jataí por sua docilidade, discrição e facilidade de manejo em caixas racionais.
Manejo e boas práticas
Para quem cria Jataí, recomenda-se caixas compactas adaptadas para meliponíneos, posicionamento em locais sombreados e protegidos e atenção à prevenção contra formigas e roubos por outras espécies. A colheita do mel costuma ser feita por sucção com seringa ou raspagem cuidadosa dos potes, evitando contaminação e mantendo estoques para a própria colônia.
Conservação e ameaças
Apesar da ampla ocorrência, a Jataí sofre com perda de habitat, fragmentação florestal e exposição a pesticidas. A comercialização de ninhos silvestres e manejo inadequado também ameaçam populações locais. Estratégias eficazes incluem: plantio de espécies melíferas nativas, redução de agrotóxicos e práticas sustentáveis de meliponicultura.
Ficha técnica da espécie
| Nome comum | Jataí, Jataí-amarela, abelha-mirim |
| Nome científico | Tetragonisca angustula |
| Família / tribo | Apidae / Meliponini |
| Tamanho | ≈ 4–5 mm |
| Colônia | Milhares de indivíduos (perene) |
| Produtos | Mel, pólen, própolis/geoprópolis, cerume |
| Habitat | Cavidades naturais, muros, caixas racionais |
Referências e créditos
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