🐝Abelha Jataí (Tetragonisca angustula)🍯

Sumário 

Introdução

A JataíTetragonisca angustula — é uma abelha sem ferrão de pequena estatura e grande presença nas paisagens brasileiras. Amplamente apreciada por meliponicultores e comunidades tradicionais, a espécie combina fácil manejo com papel relevante como polinizadora em ambientes naturais e urbanos.

Abelha Jataí em close. Crédito: Wikimedia Commons 


Identificação e descrição

A Jataí é muito pequena — cerca de 4–5 mm — com coloração que varia entre tons amarelados e partes mais escuras no tórax e abdome. Como integrante da tribo Meliponini, é desprovida de ferrão funcional; a defesa da colônia é feita por soldados e por uso de resinas.

Vários nomes populares acompanham a espécie: jataí, jataí-amarela, abelha-mirim, sete-portas e outros, com etimologia tupi para termos como “jataí” em registros linguísticos históricos.


Distribuição geográfica e habitat

Tetragonisca angustula tem distribuição ampla no Neotrópico: do México ao norte da Argentina, com forte presença em todo o Brasil. Ocorre tanto em fragmentos florestais quanto em ambientes antropizados, utilizando cavidades pré-existentes em madeira, muros, postes e caixas racionais.

Mapa ilustrativo da área de ocorrência. Fonte: Wikimedia Commons.


Organização social da colônia

As colônias são perenes e geralmente atingem milhares de indivíduos, organizados em castas: rainha reprodutora, operárias com divisão de tarefas (limpeza, construção, forrageio) e soldados especializados na defesa.

A produção de indivíduos reprodutores (machos e potencialmente novas rainhas) segue ciclos sazonais, com maior enxameação e produção sexual geralmente no período mais favorável à alimentação — no Hemisfério Sul, o verão e fim de verão concentram essas atividades.


Ninho, arquitetura e entrada característica

O ninho é montado em cavidades fechadas, com discos de cria horizontais no centro e potes de alimento ao redor. A entrada típica é um tubo de cerume (material ceroso/resinoso) que se projeta para fora: um “dedo” que protege o acesso e pode ser parcialmente fechado em situações de risco.

Entrada em tubo de cerume — característica que dá origem a nomes populares como “sete-portas”.


Forrageio, dieta e comportamento de procura

Jataís coletam néctar, pólen e resinas. O alcance típico de voo para forrageio é relativamente curto (centenas de metros) — uma característica ligada ao pequeno porte corporal — e a busca por recursos depende fortemente da experiência individual das forrageiras, com recrutamento químico indireto mais fraco do que em algumas vespas ou abelhas maiores.

Estudos documentam visitas a dezenas de espécies de plantas; em certos locais, a Jataí chega a ser a principal visitante de muitas flores locais.


Mel da Jataí: produção e qualidades

O mel de Jataí é apreciado por seu sabor delicado, notas florais e acidez característica. A produção por colônia é limitada (pequenas quantidades por ano), o que eleva o valor comercial — em algumas regiões, o preço pode exceder significantemente o do mel de abelhas com ferrão.

Mel de abelha sem ferrão — tonalidades e viscosidade variam conforme a flora.


Propriedades relatadas: maior umidade relativa que méis de Apis, pH mais ácido e presença de compostos bioativos com ação antimicrobiana e antioxidante. Uso tradicional inclui aplicações para garganta, olho e pequenas lesões — sempre observando práticas higiênicas.


Importância ecológica e relação com humanos

Como polinizadora, a Jataí desempenha papel vital na reprodução de plantas nativas e cultivadas de flores acessíveis a seu porte. Em áreas urbanas, contribui para a frutificação de pomares caseiros e jardins, além de ser indicada para projetos educativos e de restauração ecológica.

Muitos meliponicultores preferem a Jataí por sua docilidade, discrição e facilidade de manejo em caixas racionais.


Manejo e boas práticas

Para quem cria Jataí, recomenda-se caixas compactas adaptadas para meliponíneos, posicionamento em locais sombreados e protegidos e atenção à prevenção contra formigas e roubos por outras espécies. A colheita do mel costuma ser feita por sucção com seringa ou raspagem cuidadosa dos potes, evitando contaminação e mantendo estoques para a própria colônia.


Conservação e ameaças

Apesar da ampla ocorrência, a Jataí sofre com perda de habitat, fragmentação florestal e exposição a pesticidas. A comercialização de ninhos silvestres e manejo inadequado também ameaçam populações locais. Estratégias eficazes incluem: plantio de espécies melíferas nativas, redução de agrotóxicos e práticas sustentáveis de meliponicultura.


Ficha técnica da espécie

Nome comumJataí, Jataí-amarela, abelha-mirim
Nome científicoTetragonisca angustula
Família / triboApidae / Meliponini
Tamanho≈ 4–5 mm
ColôniaMilhares de indivíduos (perene)
ProdutosMel, pólen, própolis/geoprópolis, cerume
HabitatCavidades naturais, muros, caixas racionais


Referências e créditos

As informações do relatório foram compiladas a partir de literatura científica, revisões e bases de extensão técnica. Abaixo estão as referências e as fontes mencionadas originalmente:

  1. Navarro, E. A. — Dicionário de Tupi Antigo. São Paulo. 2013.
  2. Huare, D. T. — Léxico remanescente Umutina — Dissertação (Mestrado), 2015.
  3. Antunes de Araújo, G. — A Grammar of Sabanê. 2004.
  4. “Hymenoptera” — Encyclopedia of Life. (consulta 2015)
  5. Costa, M.A.; Del Lama, M.A.; Melo, G.A.R.; Sheppard, W.S. (2003). Molecular phylogeny of the stingless bees. Apidologie 34(1):73–84.
  6. Stuchi, A.L. (2012). Molecular Marker to Identify Two Stingless Bee Species: Tetragonisca angustula and T. fiebrigi. Sociobiology 59(1):123–134.
  7. Wittmann, D. (1985). Aerial defense of the nest by workers of Trigona (Tetragonisca) angustula. Behavioral Ecology and Sociobiology 16(2):111–114.
  8. Segers, F. (2015). Soldier production in a stingless bee depends on rearing location and nurse behavior. Behavioral Ecology and Sociobiology 69(4):613–623.
  9. Batista, M. (2003). Nesting sites and abundance of Meliponini in heterogeneous habitats. Lundiana 4(1):19–23.
  10. van Veen, J.W.; Sommeijer, M.J. (2000). Colony reproduction in Tetragonisca angustula. Insectes Sociaux 47(1):70–75.
  11. Prato, M.; Soares, A.E.E. (2013). Production of Sexuals and Mating Frequency in T. angustula. Neotropical Entomology 42(5):474–482.
  12. Grosso, A. (2002). Division of labor, lifespan and nest architecture of T. angustula angustula. Sociobiology 40(3):615–637.
  13. Jones, S.M.; van Zweden, J.S.; Grüter, C.; et al. (2011). The role of wax and resin in nestmate recognition of T. angustula. Behavioral Ecology and Sociobiology 66:1–12.
  14. McCabe, S.I.; Farina, W.M. (2010). Olfactory learning in T. angustula. Journal of Comparative Physiology A 196(7):481–490.
  15. De Bruijn, L.L.M.; Sommeijer, M.J. (1997). Colony foraging in different species of stingless bees. Insectes Sociaux 44:35–47.
  16. Araújo, E.D.; Costa, M.; Chaud-Netto, J.; Fowler, H.G. (2004). Body size and flight distance in stingless bees. Brazilian Journal of Biology 64:563–568.
  17. Braga, J.A.; Sales, E.O.; Soares Neto, J.; et al. (2012). Floral sources to T. angustula in Southeastern Atlantic Forest. Revista de Biologia Tropical 60(4):1491–1501.
  18. Couvillon, M.J.; Segers, F.H.I.D.; Cooper-Bowman, R.; et al. (2013). Context affects nestmate recognition errors. Journal of Experimental Biology 216(16):3055–3061.
  19. Velez-Ruiz, R.I.; Gonzalez, V.H.; Engel, M.S. (2013). Observations on urban ecology of T. angustula. Journal of Melittology.
  20. Fuenmayor, C.A. (2012). "Miel de Angelita" — composition and physicochemical properties of T. angustula honey. Interciencia 37(2):142–147.
  21. Miorin, P.L.; Levy Jr., N.C.; Custódio, A.R.; et al. (2003). Antibacterial activity of honey and propolis from Apis mellifera and T. angustula. Journal of Applied Microbiology 95(5):913–920.


PandaLoad

Postagem Anterior Próxima Postagem